sábado, 24 de maio de 2008

E até o pequi saiu perdendo...

E vamos de novo com Carlos Alberto Sardenberg em sua coluna de O Globo de 22/05/2008, intitulada “Sem fábrica. E sem pequi”.

Ancorada em uma pesquisa que mostra que 600.000 novos domicílios brasileiros passaram a comprar refrigerante, a Ambev resolveu montar uma nova fábrica no país, e escolheu o município de Sete Lagoas, em Minas Gerais. Comprou terreno e anunciou investimentos de R$ 240 milhões além de 2.000 empregos diretos e indiretos. O terreno tem 410 árvores de pequi, e uma lei estadual proíbe o seu corte. A Ambev propôs plantar 10.000 pequizeiros em local a ser definido pelos órgãos ambientais. Não pode. A lei não prevê essa substituição. A Ambev então procura terreno em outro lugar, embora a prefeitura e lideranças locais procurem uma solução. O mais provável é que Sete Lagoas perca os empregos e o investimento. A Ambev tem recursos humanos e materiais para contornar esse tipo de dificuldade; já pequenas e médias empresas desistem e ficam pelo caminho. Em tempo: Sete Lagoas perde também, 9.590 árvores de pequi!!!

Sardenberg mantém a sua postura de defesa da livre iniciativa, e nos dá conta de mais uma “pérola” brasileira. A situação é verdadeiramente absurda se considerarmos que a própria questão ambiental – se podemos chamar assim, visto que não consta que o pequi esteja em extinção – não é atendida, já que mais de 9.000 árvores adicionais deixarão de ser plantadas. É incrível como o legislador não tem, aparentemente, nenhuma preocupação com as conseqüências de seus atos (a reportagem nos dá conta de que ninguém se lembra de como essa lei foi aprovada). Ainda que essa lei em especial não tenha aparentemente nenhum preconceito contra a livre iniciativa, é fácil ver como leis feitas aparentemente sem nenhum critério podem se transformar em empecilhos não só ao empreendedorismo, mas também ao próprio bem-estar da população a quem supostamente deveriam proteger. Boa sorte ao povo de Sete Lagoas – e pelo visto vão precisar muito...

Um comentário:

Anônimo disse...

várias pessoas necessitam dessas árvores de pequi produtivas. Para que as novas mudas plantadas voltem a produzir seria necessário mais ou menos uns 10 anos. Outro ponto: quem garante que o potencial produtivo das novas plantas será igual ao das cortadas? Ninguém. Mais uma observação. O índice de pegamento de pequizeiros é relativamente baixo (10-20%) o que daria no máximo 2 mil novas árvores se tivéssemos um pegamento de 20 %. a última questão: onde, nos dias atuais, eu conseguiria 10000 mudas de pequizeiro - com qualidade - para plantio? o investimento da Ambev é importante para a cidade, mas as coisas não são assim tão simples. A Ambev deveria ter se informado inicialmente sobre a legislação Estadual antes de fazer a aquisição do terreno e procurado outra área antes de realizar o investimento. Duas coisas saltam aos olhos: falta de planejamento e uma possível "visão empreendedora" de quem vendeu a área, uma vez que essa lei é bastante conhecida em Minas e por causa dela e de outras leis algumas áreas permanecem com pouca intervenção na flora.